As revoluções agrícola e industrial, dentre outras tiveram a intenção de melhorar a vida da humanidade, no entanto será mesmo que melhoraram? Trabalhando como um condenado, sem qualidade de vida, atormentado pela crença de que “enquanto você dorme o outro avança”, neste quadro de competitividade, onde tudo é urgente, o ser humano ao invés agraciado, é explorado pelo desenvolvimento. O pseudodesenvolvimento encolhe o tempo de lazer, engole e adoece a humanidade.
Neste cenário a doença mental é a ignorância de si. E o agravante, é que as pessoas pensam que se conhecem, e não precisam de terapeuta pois são perfeitamente conhecedoras de seus dados, fatos, desejos e limitações. Será? Na verdade, as pessoas somente conhecem aquilo que é útil e interessante conhecer, mas existem informações na região do desconhecido que estão se acumulando porém, as pessoas preferem deixar na vala do esquecimento por preguiça ou para evitar a dor.
Abrindo mão da autossuficiência, com a ajuda de um especialista, irão conhecer a parte sombria a ser curada com a luz da consciência. Segundo Yuval Noah Harari, um historiador Israelense, escritor dos livros Homo Sapiens, Homo Deus e 21 lições para sobreviver ao Século 21, afirma que o homem sabe menos de si do que imagina saber, e que diante da incerteza do que será o mundo em 2050, deveria preparar-se introduzindo na educação, a inteligência emocional, a saúde mental porque será preciso certamente a capacidade de se adaptar, de se reinventar constantemente. Não sabemos as habilidades precisas, porque o futuro do mundo é um grande ponto de interrogação, principalmente no que diz respeito ao mercado de trabalho que sofrerá drásticas alterações.
Atualmente, se tivermos que ensinar alguma coisa a uma criança, será construir uma identidade, não como casas de pedras com alicerces profundos, mas como tendas para desarmar e levar para qualquer lugar, sem saber para onde, mas terá que se mudar. Segundo o historiador, todo o sistema democrático liberal é construído sobre ideias filosóficas que herdamos do século XVIII, de livre arbítrio, que está na base dos modelos fundamentais: “o cliente sempre tem razão”, “escreva o que o leitor quer ouvir”, “a beleza está nos olhos de quem a vê”, “cuide-se para cuidar”, “siga o seu coração”, “faça o que lhe faz bem”, todos esses modelo liberais, que são a base do nosso sistema político e econômico, e partem do princípio de que a autoridade máxima reside nas escolhas livres dos indivíduos, estão por cair, pois a liberdade é questionável.
Atualmente, quem é realmente livre? Quem tem liberdade de escolha? A dura realidade é que a maioria seguidores de influenciadores cujas referências são duvidosas. Quem pode afirmar que as massas estão certas? Muitos ainda estão vivendo o Mito da Caverna de Platão, onde as pessoas acreditam em verdades projetadas por quem tem interesse político em manipular os gostos, as ideias, os desejos, das massas. Nas redes sociais, os influenciadores repetem aquilo que precisam acreditar, que fazem parte da legião de “sábios” filhos do Instagram, ditando “formas de bem viver”, com autoridade para repassar conselhos como se fossem exemplos, sem chegar a lugar algum.
É nesse terreno de areia movediça que se deve buscar a corda da consciência para livrar-se das correntes escravizantes do falso saber. Aqueles que são substâncias, sabem que existem armadilhas, desvios para nos colocar na posição do caminho enganoso, onde somos presas mais fáceis de manipulação do Marketing, criadores de desejos. O grande golpe do deus google, é ter privilegiado dos dados do que as pessoas gostam de comer e de ouvir, onde estão indo e o que buscam, mas ninguém pode prever o final da história.
Diante do interesse avassalador do enquadramento das mentes humanas, condicionadas a padrões de consumo, a comunicação de massa visa beneficiar um pequeno grupo que se acha dono do caminho da humanidade, mas o pensamento crítico é o contraponto que tem como base a nova postura da humanidade.
A solução não está na alopatia, nem na comida, nem nada fora, mas no discernimento pessoal de quem é substância e não massa. No filme Dom Juan de Marco, o psiquiatra entende que a verdadeira capacidade de respirar a sanidade mental, é vivendo, não a realidade dos remédios, pizzas e consumo, mas sim desenvolvendo o lado criativo e artístico, através da música, pintura, dança, arquitetura e poesia. É basilar acreditar em uma crença de que, há uma semente do Criador em cada humano, e de posse do livre arbítrio, é possível fazer de si uma obra de arte.
Aquela criatura que tem, nem que seja um leve encontro com a consciência interna, está sadio mentalmente, pois tem algo de si para si, e tem a liberdade de pensar por si, e refletir sobre as verdades destituídas de apegos e interesses de como se “dar bem” no pedaço.
O olhar para dentro é infinitamente libertador e, o primeiro sintoma da manifestação do poder interior, é a capacidade manter-se inabalável em qualquer situação de desafio. O Terapeuta através do método Socrático, ajuda ao paciente a refletir através dos próprios pensamentos, exercitando o livre arbítrio para se desgarrar do bando e, tomar as rédeas de um caminho nem bom, nem ruim, mas livre de condicionamentos aprisionantes, onde saúde mental é o estado de consciência pura para manter-se equilibrado diante das pressões. A saúde mental começa quando a auto-observação separa o que é do sistema, daquilo que é genuinamente humano, distingue o joio de trigo e se faz gente, buscando a pureza incomparável de ser quem é, mesmo transitando no meio dos estranhos seres mecanizados, nas crises infindáveis de um sistema falido. Há uma um olhar limpo que vê, distingue e faz escolhas com base em critérios únicos e salvam a própria vida. São anjos de uma nova humanidade.
Magui Guimarães
