Quem eu sou? O que estou fazendo aqui? São perguntas que suscitam muitas respostas, e por outro lado, não tem resposta alguma. Muitas ferramentas de autoconhecimento são tentativas de enquadramento do humano, através de horóscopo, mapa astral, características comportamentais, testes psicológicos, traços de personalidade, eneagrama, Big Five, e todas as respostas teóricas sobre “quem se é”, na prática, podem ser inúteis. A forma como nos sentimos diante dos acontecimentos, fala mais alto sobre “quem nós somos”, do que adjetivos, que são rótulos superficiais, assim como a palavra é tacanha para verbalizar o mistério humano.
Sempre seremos um ponto de interrogação construindo um processo inacabado, recriando-se simultaneamente, em desenhos múltiplos de possibilidades, surpreendendo o próprio usuário. Somos infinitamente mais do que uma carteira de identidade e, muito mais do que podemos imaginar. Nem Aristóteles com toda a sua capacidade de observação, conseguiu responder a pergunta “Quem somos” exatamente, enquanto uma matemática inexata na relação consigo próprio, com os outros e com o mundo, combinando-se de forma única e original com todas as possibilidades de ser.
Como sabermos “quem nós somos” se somente existimos no “sendo”, acontecendo na frequência e intensidade das mudanças, em um pedacinho de vida específico? Nos descobrimos muito mais naquilo que sentimos em contato com o mundo externo, do que lendo o resultado de um teste psicológico. O despertar de nós mesmos está mais presente ao sentirmos a natureza, do que quando escrevemos nosso currículo. Conseguimos descobrir “Quem Somos” muito mais no sentimento que vivemos quando damos um abraço, do que lendo a definição em um dicionário. Somos um sentir em algum tempo, escrito no gerúndio de um quando.
A definição cognitiva de “quem nós somos” é pobre diante da rica vivência de humanidade que cada um traz, em potencial ao nascer, e que nos piores momentos, resgatamos as melhores qualidades para transcendermos a turbulência de maneira, nunca antes pensada. Apesar de toda a insegurança de um mundo em profundas e rápidas transformações, onde tudo está por um fio, a viagem humana pode transcender ao caos, através da graça e da arte, porque somos muito mais do que fruto do cenário.
A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera explora personagens que são mais do que instintos, e acima de qualquer conceito, têm a coragem de se sentirem filhos do Pai, sem precisar de explicações, o que tira o peso da vida. O melhor dessa história, é que não existe um conceito final a respeito do ser humano, e sempre iremos nos surpreender sendo únicos, originais e vamos vencer os desafios, simplesmente, por reconhecermos-nos como filhos do Pai da criação A vida em si é surpreendentemente incognoscível, e nos oferece aventuras repletas de altos e baixos, evoluindo em ondas de crescimento, e a escolha mais inteligente é entregarmo-nos ao extravagante desconhecido, incomum e absurdo, vivenciando a delícia do imprevisível, sem direito a ensaio, porque o Pai confia que seus filhos irão além…
