Assim como o dinheiro, também a linguagem pode trazer riqueza. Muito mais do que uma gorda conta bancária, das palavras dependem a qualidade de vida. A palavra além de ser um substrato da comunicação, sua vibração sonora dispara no sistema nervoso um fenômeno bio-elétrico-químico, criando bem ou mal-estar.
Nada é tão devastador para o bem-estar, do que o uso incorreto da palavra. A qualidade de vida é determinada pelas palavras com que se faz a leitura de si, do outro e do mundo. E, no entanto, falamos irresponsavelmente sem se dar conta do efeito danoso para a saúde física, mental e espiritual.
Pelo viés biológico, a imunidade do corpo depende de uma autoestima forte, e a má palavra agride primeiramente ao emissor, deixando o corpo fraco, sem defesas para combater a entrada de vírus, bactérias, e ainda abre espaço para doenças mentais: neurose, angústia, ansiedade e depressão.
Quem fala mal, e estamos nos referindo a uma maledicência, ou seja, uma fala que prejudica alguém, causa na verdade, um mal a si mesmo. Uma crítica reverbera acidez no ambiente externo, e como um bumerangue retorna à fonte, similar aos movimentos das ondas do mar.
Uma fofoca pode ser um escorregão das nossas pequenezas, mas o perigo é o de falar mal do outro, quando existe uma intencionalidade de prejudicar o outro propositalmente. Os pensamentos alimentam a agenda oculta e, quais mísseis teleguiados, bombardeiam a imagem do outro de forma impiedosa.
Tem vezes que o falar mal do outro é apenas um fato jornalístico, uma informação para prevenir que outras pessoas sejam lesadas. Em caso de não ter uma agenda própria, a pessoa está habilitada a falar a verdade dos fatos, criticamente, sendo permitido fazer o comentário. Mas mesmo assim deve ter cuidado com as invasões da irracionalidade porque, naquela batalha naval de acertar um submarino, por alguma razão que até a pessoa desconhece, acaba acertando um porta aviões.
E mesmo sem intencionalidade, o estrago feito com essa fala, dirigida ao mal é como uma flecha, uma vez que é atirada, ao invés de acertar um animal perigoso que estava nos atacando, pode acertar um inocente. E não adianta se arrepender porque uma vez que colocamos em ação um movimento bom ou mau, ele se torna autônomo.
Ao derrubar todas as peças do dominó, a pessoa pode dizer: – “Eu só dei um peteleco, e tudo se desarrumou”. A consciência registra algum tipo de malícia naquele peteleco e a pessoa sente-se corretamente responsabilizada pelo desastre.
Porque é tão necessária a limpeza da fala tóxica? Porque as guerras nascem na subjetividade humana, quando usamos palavras desabonadoras contra o outro para mostrar poder pessoal. Na posição de nos acharmos o centro do mundo, a última Coca Cola do deserto, nos arvoramos do direito de eliminar todos os que são contrários.
O agravante é que através dos meios de comunicação, é possível atingir, ao invés da vilazinha, alcançar o planeta inteiro. A partir de um comentário de infâmia, difamação e injúria, a flechinha atirada, pode virar uma bomba atômica catastrófica.
Para evitar a doença generalizada da humanidade, demanda sensibilidade e inteligência para fazer a crítica da crítica. Cabe a todos nós, identificarmos que chamamos de egoísta, todos os que não satisfazem os nossos desejos, e aí nasce a vontade de detonar o outro que não atende as nossas expectativas.
As tradições apontam que a causa é o orgulho ferido, que gera uma emoção destruidora porque está intrinsicamente ligado com a imagem que a pessoa tem dela mesma. O orgulho é uma grande armadilha que nos cega. Para essa é a doença, o antídoto é a humildade que consegue reconhecer a semente do bem e o potencial de generosidade de cada pessoa.
Quando, por uma limitação pessoal, não conseguimos ver o melhor em todas as pessoas, o ideal é não reagir aos ataques e se afastar das pedras raivosas e maliciosas daqueles que ainda não reconheceram o seu próprio potencial de bondade, sua própria doçura e, por essa razão atacam, mentem e negam, sem se dar conta que a causa real de sua raiva, não é o defeito do outro, mas o orgulho próprio ferido.
A descoberta das causas reais do nosso azedume, acontece quando se faz a crítica da própria crítica , e com água cristalina da humildade, limpa a toxidade da fala a partir de um coração amoroso.
Boa reflexão de Domingo
Magui Guimarães