Magui Guimaraes

Leveza & Livre Arbítrio

 SEGREDOS DO VENTO

O farfalhar do coqueiro é a voz do vento que aquieta os ouvidos, o balanço das palhas é a dança que encanta os olhos, o toque suave é o carinho que a pele recebe, infiltrando-se por menor que seja o espaço, refrescando, invisível e forte, o vento vai tirando os véus, em silêncio  

 

Leveza & Livre Arbítrio

Fazendo um passeio através das realizações humanas, há um considerável número de descobertas,  Teoria da Relatividade e Ondas Gravitacionais,  Penicilina,  Estrutura DNA, Transplante, Missão Apolo 11 – Chegada à lua, Sequenciamento Genoma humano.    No campo das invenções, a viagem ainda é mais extensa, desde a primeira universidade à Internet, das caravelas ao ônibus espacial, do micróbio à clonagem, dos computadores até a inteligência artificial, mas teve um pífio avanço, nas construções internas do ser, na capacidade de criar estados de leveza interior, por exemplo.

Nessa caminhada da humanidade, na relação com o mundo, o que é mais presente, a tensão ou tenção?   A tenção se refere, principalmente, a uma intenção, finalidade e propósito que se pretende concretizar, enquanto a tensão se refere ao estado do que está tenso, cheio de apreensão, ansiedade, preocupação e sobrecarga, na iminência de uma situação perigosa e violenta.  É urgente usar o livre arbítrio para escolher um estilo de vida leve, com menos tensão e mais tenção.

Na metáfora do Paraíso, a mente original de Adão era ampliada e contemplativa, mas quando come do fruto da árvore do bem e do mal, adquire  a  identidade dual, por comparação entende a diferença entre o amor e o ódio, o homem e a mulher, preto e branco, e com  o nascimento da consciência pelas diferenças, recebe o livre arbítrio, e o peso da responsabilidade pelas escolhas.  Agora, já não é tão simples, e requer uma parada para fazer comparações entre as opções.

Na história de um Alguém que morreu e, virou Ninguém, chegou num lugar que tinha uma fila enorme e outra bem pequena, e perguntou ao Porteiro porque duas filas, o mesmo respondeu: a fila grande é quem quer entender como é o céu, a fila pequena é quem quer entrar no céu.   No desejo de querer se dar bem, perde-se tempo na fila das dicas, por antecipação.

Nesse tempo perdido é que mora a demora, o delay, o atraso que não existia antes. Adão não mais decide de pronto como inicialmente, pois tem que discernir entre o bem e o mal, que somente existe, enquanto experiência humana, na dimensão mais abrangente, toda a criação é benéfica, mas  Adão, saído do Paraíso, não percebe que o bem está em todo lugar, e torna-se um ser político, com a consciência binária, fragmentada, coexistindo com dois personagens, o que pensa e o que pensa quem pensa, e investe tempo adicional para avaliar seus interesses,  e aumenta o delay, tornando-se desinteressante, um  tagarela com a mente pequena, vacilando no sobe e desce da gangorra dos  “prós” e “contras”,   porque quer ter o controle de tudo que lhe acontece e, do que vai acontecer, criando um estado de tensão mental, gravitando em torno de perder menos e ganhar mais.

Porém, era uma vez, em algum reino da Dinamarca, dois amigos do rei que foram incriminados, e o rei para salvá-los criou uma condição, se andarem na corda bamba sobre um abismo, serão salvos. Quando o primeiro conseguiu atravessar, o segundo perguntou como você fez para conseguir? E a resposta veio rápida: – Eu não sei nada sobre “como” atravessei, eu posso apenas falar da experiência, toda vez que o corpo pendia para um lado, redirecionava o peso para o outro lado, e fui dando os passos.

Seja lá qual o movimento, o equilíbrio vai depender de voltar para o eixo.  Não tem “dica” de antemão.  Os abismos estão cheios de titubeantes, indecisos e vacilantes. Os que pensam muito, perdem tempo com tensões, com a incerteza da próxima passada, se vai dar certo ou não, e  caem no abismo ao perder a mente ampliada, meditativa, contemplativa que usa a tenção da intenção para aprender pela vivência, acumulando experiência na carne, e tornando-se diferente, apesar de ter uma percepção de continuidade de quem si é, mas a cada aprendizado, com certeza, somos diferentes. O fato de tombar para um lado, e fazer um esforço para pender para o outro, faz com que, sejamos totalmente diferentes, de um passo para o outro, porque nas tomadas de decisão, contém uma carga de aprendizado vivencial acumulativo.

O livre arbítrio somente existe para decidir o dia-a-dia, no mundinho da existência cotidiana, e de tanto ser previsível, nos automatizamos, damos adeus ao sabor da sabedoria, nos limitamos  ao micro espaço finito da existência mecânica, presa na gangorra, onde de um lado pesam os benefícios e de outro, os malefícios, e a mente permanece tensionada entre extremos.

Na tradição judaica tem uma frase “Tudo está previsto e autonomia é dada” para resolver as questões pequenas da mente estreita, porque na mente ampliada não há livre arbítrio, e por esta razão não tem a tensão do medo da escolha certa ou errada.    A mente ampliada vê claramente o que deve ser feito e faz.

A dimensão macro, de amplitude infinita obedece às leis cósmicas, sem a interferência.   O sábio de mente ampliada não tem as informações que a ciência tem, não lê no livro e não tem um guru, e obtém as respostas das experiências diretas na relação com a vida, onde não tem certo ou errado, mas sim o desperto que quando pende para a esquerda, faz o movimento paradoxal para direita na mesma intensidade, e passo a passo, entre o desequilíbrio e equilíbrio não cai no abismo. O livre arbítrio é o próprio processo de ajuste.

Quem tem mente ampliada não tem delay, porque a relação com a vida é direta, não há dúvidas, não precisa de livre arbítrio, não tem o que escolher, não perde tempo, não  há o que temer, porque ao invés de controlar, há uma profunda confiança na entrega, livre, solto,  com a leveza de uma folha ao vento…

Magui Guimarães

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