Magui Guimaraes

Convivência Saudável

A convivência saudável entre pessoas pode ser uma utopia, se considerarmos a instabilidade emocional, característica única que diferencia o ser humano dos demais reinos que simplesmente cumprem a função, a exemplo do reino mineral, vegetal e animal, esse último de forma instintiva. Há um desafio maior quanto de se trata do vício humano em deixar que as emoções comandem a mente quando devia ser o contrário.
O funcionamento biológico do organismo humano é um exemplo de organização perfeita para ser replicado, dado a missão com que cada o órgão, embora sejam distinto, em forma e função, trabalha em sincronia perfeita para manter o organismo vivo. Fígado, coração, intestino, cérebro, pulmão e demais órgãos, se inter-relacionam sem disputa, inveja, ou hierarquia, distintos e unidos, entregando, na medida certa, o que o outros órgãos precisam receber e assim, o movimento sincronizado de cada respiração é um espetáculo de alta complexidade do conjunto de partes diferentes funcionando de forma integrada, em perfeita unicidade.
Se algum órgão está sendo descuidado, e não está podendo cumprir a função que lhe compete, o organismo manda sinais para o usuário buscar novamente o equilíbrio, que tem o nome de saúde. O organismo humano é uma perfeita metáfora de como o universo micro e macro devem funcionar para que a história da humanidade se perpetue.
As células de cada órgão funcionam ao mesmo tempo de forma individual e integrada, e se alguma partícula resolve crescer mais do que a outra, ocupando mais espaço do que o suficiente, o nome é câncer. O crescimento desorganizado da célula, a partir dela mesma, é um exemplo de uma anomalia de que houve uma perda de noção, fora do movimento igualitário e solidário, levando a morte.
Assim também acontece na sociedade, quando pessoas atropelam outras, e avançam em sua ambição desmedida, entrando em competição para tirar proveito, prazer e satisfazer seus interesses individuais acima do coletivo, a tendência é o fracasso. Nos empreendimentos humanos, o câncer do individualismo egoísta querendo impor seus desejos, à custa de danos a terceiros, é o câncer que leva os empreendimentos à falência.
Quando os indivíduos perdem a noção da humanidade enquanto unicidade, resolvem ter um crescimento anormal, e concentram-se tanto em si mesmo que causam um processo de autodestruição irreversível.
O egoísmo, a insensibilidade em relação ao outro, tem consequências drásticas para toda a humanidade. Isto é visível nos 120 conflitos armados em curso no mundo, nos quais pessoas como nós, na passagem do ano, estouraram balas e bombas à meia-noite, em vez de rojões e espumantes. Miniguerras também são realidades dentro das empresas, das famílias, das facções, das religiões, dos condomínios, dos partidos políticos formando células cancerosas com potencial de destruição local e global.
Para a maioria das pessoas, quando sente uma dor no dedo do pé, sofre mais do que quando lê a notícia do terremoto que tirou a vida de milhares de pessoas. A desqualificação da dor do outro, é a falência do processo de ser gente, resultando em uma “existência oca”, insipiente e cheia de incoerências, sem empatia, respeito, solidariedade e compaixão.
Normalmente, a anomalia está no pensar “eu sou eu” e o outro é uma entidade à parte de mim. E a cura está em transformar o “outro” em mim mesmo. Isso só será possível quando o “eu” de cada um, entender que a humanidade é somente um único organismo, e tudo que acontece a um, afeta a todos. A unicidade é uma premissa filosófica sem a qual o organismo planetário estará doente, fadado ao extermínio.
Urge pensar no universo como uma estrutura de interinclusão, e o “eu”, “tu” e “ele” É a mesma pessoa. Mas até mesmo esta afirmação poderia tornar-se mera retórica. Como é possível considerar o semelhante, muitas vezes um estranho, muitas vezes um opositor, como sendo eu mesmo? Somente quando a pessoa se eleva para além deste plano físico denso e considera o outro como uma célula do organismo humanidade. Todos somos uma célula de um único ser. Justamente para nos lembrar que todos nós somos os desdobramentos de uma unidade precípua, e se uma célula disputa com a outra, todo o organismo adoece.
A real cura se faz pela consciência, pela autopercepção, mantendo o indivíduo desperto para a condição de pertencimento a um organismo maior do que o seu próprio, é a sensação de que juntos somos melhores e mais felizes, e disso depende a continuidade da existência humana.
É realmente difícil, mas não impossível viver uma vida a serviço da vida por puro amor. Para isso, é preciso travar uma guerra, uma guerra contra a nossa inclinação negativa de querer superar o próximo, ter e ser mais do que o outro. Existem aqueles que afirmam que a competitividade é a chave do progresso, o segredo do sucesso, uma forma da sociedade humana evoluir. Mentira! Toda forma de progresso é muito mais acessível e benéfica se pensássemos em uma sociedade humana como sendo um mesmo organismo vivo. O pensar desmembrado do organismo, é o câncer maligno que afeta a todos.
Todas as sociedades humanas que se ergueram de catástrofes, guerras e se reconstruíram, só o fizeram porque tinham em mente o senso do coletivo.
Dominar os próprios instintos negativos é a forma de direcionar-se a um progresso cada vez mais eficiente para a construção de um mundo melhor. Por isso, cada pessoa deve se esforçar para viver sua vida dentro dos parâmetros da sabedoria coletiva e direcionar estes instintos negativos para que os mesmos se transformem em inclinação positiva para o bem do próximo e de todos.
De nada funciona cuidar de seu quinhão, uma vez que não existe tal coisa denominada “meu quinhão”, só existe o “nosso quinhão”, transformar este mundo em um lugar melhor para se viver. Em resumo, amar ao próximo é aprender a servir à vida que implica em servir ao todo, e este é o maior de todos os combates, pode ser difícil de se vencer, mas é possível, temos capacidade, juntos somos melhores, e merecemos saúde e felicidade.

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