Magui Guimaraes

Anacronismo & Anarquismo

Antes de entrar na sala de aula, todos alunos perfilados de pé no pátio, com a mão no peito, cantando o hino nacional, terminando a música exatamente quando a bandeira alcançava o final do mastro, e éramos invadidos por uma  sensação de patriotismo, trazendo a noção do pertencimento a uma nação, da qual tínhamos motivos para nos orgulhar. Na época, estava incluso no currículo escolar, a matéria Educação Moral e Cívica para formar o caráter do cidadão, mas a matéria, inexplicavelmente foi retirada do currículo escolar, embora tenha um valor inestimável para uma educação baseada em valores humanos e cívicos.

Outra prática abolida foi o caderno de caligrafia, onde a letra deveria obedecer às linhas indicativas que ajudavam a escrever, observando a proporcionalidade das formas, e hoje, com os alunos de tela, com o advento da assinatura ponto gov. não se segura mais um lápis, nem para assinar o nome.

A saia azul marinho de pregas rigorosamente passadas a ferro de brasa de carvão, até a altura do joelho, contrastava com camisa branca com o símbolo do colégio bordado no bolso, sapatos carinha de bêbê, com meias soquete, e cabelo amarrados por um laço de fita branca, formando um rabo de cavalo.

A atualização dos tempos modernos requer textos curtos enriquecidos por imagens dos aplicativos que movimentam redes sociais, e a referência do que é bom, passa a ser o número de seguidores, geralmente vestidos com calças apertadas, blusas justas e cabelos soltos esvoaçantes, dessa juventude que tem múltiplas escolhas deste o mundo do tráfico até uma preparação para atender as exigências do mundo do trabalho, e até viver com arte, da arte e para a arte.

Para os que viveram as diversas gerações, qual o melhor tempo, o passado ou o agora?  O saudosismo de uma época não pode justificar o anacronismo de estar utilizando os conceitos e ideias de um tempo passado, para analisar os fatos de tempos modernos, onde há uma tendência para o anarquismo, dentro do qual a juventude ataca à ordem social estabelecida e afronta os costumes reinantes.

Usando a dialética para dialogar entre as épocas contraditórias, talvez seja recomendável, segundo a Programação Neurolinguística, repensar na escolha das palavras corretas para, ao invés de fechar, abrir possibilidades.

O uso da palavra “ou” conduz ao processo da exclusão ao se referir a isso ou aquilo.  Os tempos chamam para abraçar a ideia de inclusão e absorver a cultura da diversidade.         Agora é tempo de adição, de abraçar todas as possibilidades e harmoniza, todas as ideias que pareçam divergentes.   Não cabe mais utilizar valores diferentes para analisar os fatos de outros tempos.   Os tempos históricos devem ser analisados à luz daquilo que soma, e a proposta do “e”, uma conjunção aditiva que agrega e aceita uma ideia e também outra ideia, aparentemente contrária.     

        O antigo, e ao mesmo tempo tão moderno, Taoísmo que entende a dinâmica do Yin se transformando em Yang, reversando continuamente, as visões de mundo, é a proposta do “e” que abre caminhos para todas as dualidades e multiplicidades, em um infinito combinatório, em que tudo é uma questão de referência, em busca da harmonia e equilíbrio.

O zero é todo o potencial latente, é a representação do estado da potencialidade anterior a manifestação. Na potencialidade do vazio cabem todas as visões de mundo, ou seja: a minha, a sua e a nossa!  Os contrários se complementam e, a luz das estrelas é vista com mais intensidade no campo da escuridão.   No mundo relativo, é o momento de destronar a empáfia da resposta Rainha como única opção certa.  Descartar respostas taxativas de “Sim” ou “Não”, é trazer ao mundo, dependendo dos contextos, o direito da dúvida, com as respostas  “Talvez” e “Depende”.

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