Por ser redonda, a Terra é um lugar aonde se caminha em círculo, voltando sempre para o ponto de partida, e o horizonte brinca de se afastar, a cada passo ávido por aproximação. O horizonte é um lugar que somente existe como ilusão ótica, mas necessário para inspirar o ser humano, pois na busca do encontro metafísico do céu com a terra, estamos buscando algo além do mundinho terreno.
Desde muito tempo, séculos antes de Cristo, os líderes religiosos como Moises, e seu irmão Arão, propuseram ao seu povo, a viagem para a Terra Prometida, no sentido metafórico de um estímulo para se desinstalar, levantar acampamento, sair do lugar de desconforto para viver em um espaço ideal que se não for na Terra, possa ser no território dentro de mente. Nem todos conseguem chegar para dentro de si mesmo, embora rodem o mundo inteiro, chegar dentro de si é o curto caminho longo.
Para ter vida interior, é preciso deixar pelo caminho, as ideias fixas de vitimismo ou vingança, e atualizar a mente com programas mentais que não estejam rodando em fatos passados, e nem em expectativas futuras, pois estes tempos são formas de fugir do presente, um bem que não se recupera, pois o passado ou futuro são ladrões de presentes não vividos.
A jornada para um campo onde nos tornarmos invulneráveis, é mais leve e fácil se largarmos as pesadas malas de apegos, quer de coisas, quer de pensares passados ou futuros, quer de ideias fixas, rigidez mental, que são venenos letais e causam morte psicológica, antes mesmo do corpo ir para o cemitério.
Os que lambem as próprias correntes da prisão invisível, são os escravos de bens de consumo e de prazeres efêmeros, com seus orgasmos patrocinados pelos cinco sentidos. Nada contra vivenciar os prazeres de saborear comidas, cheiros, sons, contatos de pele, beijos e sentir as delícias do corpo, mas os elementos da matéria e seus prazeres sensoriais são êxtases fugazes como fogos de artifício com início, meio e fim, e enquanto orgânicos, devem ser vivenciados, dando a eles, o tamanho que ele tem. Tudo que nos liga ao externo é circunstancial, e não preenche o buraco existencial da vida sobre a terra.
Embora imperceptível, há um abismo entre a alegria de estar no caminho e, a euforia dos carnavais, e muitos se perdem na viagem, valorizando os estímulos externos.
Inclusive a história bíblica da busca pela terra prometida, exalta o desinstalar-se, ou seja, a partida do lugar indesejado, mas se exime de noticiar a chegada na Terra Prometida, pois trata-se de uma metáfora mostrando que a promessa é ambulante e caminha dentro da cabeça humana e a metáfora é uma analogia para mostrar que vida interior, independe do cenário.
Querer partir é a vontade de expandir a percepção, mudando a compreensão da natureza interna, embora fisicamente o corpo esteja parado ou não, o importante é manter a mente em movimento, diante dos infinitos “agora” jamais vivenciados antes, onde o velho se transforma em novo, e tudo se renova. Assim viveu Mandela, líder africano que durante trinta anos, teve seu corpo preso em uma cela injustamente, mas a mente solta, livre de qualquer ódio ou sentimento de vingança contra seus algozes. A proposta da jornada existencial é ampliar a percepção, renovar conceitos, substituir crenças limitantes por outras mais expansivas, e viver uma mente saudável, no presente, a cada respiração.
O bem-estar determinante para a felicidade, não depende de nada de fora, e sim de vida interior, resultado da prática de valores e cumprimento da missão e propósito de vida. Tem uma história de um padre, em sua catequese, que pergunta ao índio: – Porque acordar de manhã cedo para ver o sol nascer, se o sol nasce toda manhã?; e o índio respondeu que o índio não vai ver o sol nascer no horizonte, e sim dentro do índio.
Magui Guimarães