Enquanto o comportamento humano, afeta somente o âmbito pessoal, ainda é concebível, mas quando começa a ameaçar a sustentabilidade planetária, é a luz vermelha que se acende para um repensar sobre os impactos no futuro. O momento é de rever o conjunto de convicções, ideias, princípios, valores para a sobrevivência da espécie.
Comer, dormir, beber e transar é físico e emocional, mas insuficientes para dar sentido à existência. Nosso cotidiano é uma ficção científica tanto para o bem, como para o mal, com todos os apetrechos e aplicativos incríveis que cada dia a gente pode baixar e fazer a nossa vida mais ampla, aparentemente, ao mesmo tempo que, cada dia o ser humano torna-se mais tecnológico, individualista, defendendo seus interesses, e criando a cada instante, um futuro diferente, onde tudo está por um fio, e não se tem certeza de nada.
O nosso processo “civilizatório” está baseado na pergunta: O que essa pessoa vai fazer por mim? Qual o benefício que ela vai trazer? Então cada pessoa será como um objeto e dependendo do ganho que nos ofereça, é decidido como essa pessoa deve ser tratada, como devemos nos relacionar com ela, pelo que ela é útil e trará ganhos, então construímos uma relação a partir de paradigmas mercantis.
O modelo de hoje vai se tornando insustentável e alguns encontram soluções escapistas construindo foguetes para nos levar para outras terras, mas o chamado é para ter uma transformação no indivíduo, não para outro lugar, e sim um outro lugar da CONSCIÊNCIA.
Há um chamado a nova consciência, para fazer valer os princípios universais estabelecidos pela ONU, através Pacto Global, lançado em 2000, e apesar desse apelo, ainda há uma concentração maior no próprio umbigo.
O empenho é construir uma consciência coletiva que gere QUALIDADE, SOBREVIVÊNCIA, SUSTENTABILIDADE a espécie humana. Se executamos, a nossa natureza individualmente ou coletivamente, é a nossa questão de amor a vida. Somos produtos do desenvolvimento da vida, onde aprender a estar aqui é aprender a ser, a ter, a dividir. Praticando a nossa natureza humana, termos chances de abraçar uma nova consciência antropológica que conhece a unidade na diversidade que é, ao mesmo tempo, única e plural. A nova consciência ecológica, abre a possibilidade de habitar com todos os seres mortais de maneira colaborativa. A nova consciência cívica terrena nos faz solidários e responsável para com todos os filhos da terra. A nova consciência espiritual vê a humanidade como uma só família.
Nosso desafio é trazer a nova consciência humanitária e comunitária para os locais onde estamos inseridos, seja uma igreja, uma empresa, um condomínio, uma associação etc.
Nossa natureza é gregária, uns protegendo os outros. Nascemos bons e generosos, e a nova consciência é trazer para luz, a própria natureza humana repleta de bondade que existe como potência e pode ser desenvolvida ou não, o pecado é não tentar.
De forma madura, há de se compreender que a nova consciência exige o sacrifício imenso de desconstruir o velho paradigma no qual estávamos equivocados, pois existem interesses que estão acima dos próprios interesses. A nova consciência coloca o DEVER, acima do DIREITO, onde a solidariedade de individuo para indivíduo, de todos para todos, ensina a ÉTICA DA COMPREENSÃO.
Embora existam atos humanos que não sejam aceitos, mesmo assim é possível compreender. Somente vamos conseguir compreender a complexidade humana, com o exercício da BONDADE, cuja definição é a capacidade de considerar os interesses do outro, como maiores e mais importantes do que seus próprios interesses, que é algo extremamente difícil de ser realizado, ou quase impossível para quem não consegue trabalhar o desapego, através da mudança de valores mercantis para valores espirituais.
Um exemplo de comunidade são os índios que imaginamos como seres atrasados por não abraçarem o “progresso”, que são primitivos, no entanto o povo indígena que conserva sua tradição, fez escolhas e muitas delas são comunitárias, de valores baseados em vínculos de compreensão, solidariedade, compromisso, bondade como teia básica das relações humanas que atendem o processo civilizatório. Na tribo, um índio não olha outro índio pelo viés da utilidade e sim com um profundo respeito, abertura, simpatia e compreensão. A compreensão é ao mesmo tempo meio e fim. O planeta necessita que cada humano decida por uma nova consciência de compreensões mútuas.
Magui Guimarães
