Magui Guimaraes

A leveza dos ventos

O peso das coisas torna-se leve, dependendo da velocidade do vento que arrasta casas e derruba árvores. O invisível vento corrói a montanha e a transporta para outro lugar. O relevo é submisso ao tempo que o vento leva, transportando cada grão de terra. O vento mostra, na tempestade, a força da leveza. Na mão, pode-se pegar uma porção de montanha e colocá-la em um vidro, mas o vento não se deixa aprisionar, acontece no frescor do movimento que assanha os cabelos, e vai embora. Em nada o vento permanece, somente passa.

No mundo físico o peso está nas coisas visíveis e grandes, mas na psique, a delícia é a fluidez dos pensamentos andarilhos, criando caleidoscópios de imagens, cores, em constante mudança de posição. Pensamento fixo é obsessão. Toda estagnação gera hematoma e amputação. Todo apego traz prazer efêmero e falsidade da momentânea ilusão que o tempo desmancha. Os verdadeiros cemitérios são as mentes de pensamentos mais rígidos do que ossos. Muitos são zumbis acomodados a pensamentos cristalizados, presos a autoimagem, cuja leveza do ser foi sugada, e afogando se nas mágoas, na má água parada, tornando seus corpos frágeis e perecíveis.

O que pesa realmente, é tudo aquilo que se dá importância, mas que não tem, tipo status, posses, poder de manipulação são como grades invisíveis, impedindo sentir a expressão da leveza do mundo da qualidade, onde a música suave das batidas do coração, cria o ritmo da energia de vida pulsando, perpassando por todo corpo e se renova na alma da natureza.

No texto bíblico de Mateus e Lucas, Jesus diz “deixe que os mortos fiquem com seus mortos” como resposta a um homem que pede para ir enterrar o seu pai antes de seguir Jesus que ia proclamar o reino de Deus. Raul Seixas em sua música, canta “Prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Os que estão com os pés presos, apegados às ideias e objetos, perdem a liberdade de encontrar mistérios a desvendar. Vida é fluxo, é cachoeira em constante movimento, que se renova no estado de flluição. Este é um conceito criado por Mihaly Csikszentimihalyi, psicólogo húngaro, PhD, que pesquisou durante duas décadas os estados de “Optimal Experience” isto é experiência máxima do ser humano. O foco não é evitar experiências de stress, mas em aumentar a qualidade de cada experiência. O que faz com que uma experiência se torne altamente agradável é o estado de “flow” – de fluição em que a pessoa fica totalmente envolvida na atividade, em estado de êxtase, leveza máxima tais como: no esporte, na dança, ao tocar um instrumento, em uma leitura ou quebra-cabeças, em diálogos profundos sobre ideias, ao escrever um artigo ou em trabalhos manuais.

Estes eventos ou estados de ”flow“ ocorrem não apenas quando as condições externas são favoráveis, mas também em condições adversas, quando tudo está vindo no sentido contrário e, mesmo assim a pessoa consegue ir além, ou em uma situação de risco de vida, consegue dominar as emoções e encontrar um momento de paz no meio da guerra. Estes sim são momentos memoráveis – momentos de bons combates! Situações em que o corpo e a mente estavam completamente empenhados num esforço voluntário para realizar algo que vale a pena. Uma experiência máxima é algo que fazemos acontecer, e que será um capítulo atrativo na história de vida.

Geralmente os momentos memoráveis são os de desafio. Então, quanto mais desafios a pessoa tem, maior a probabilidade de gerar qualidade de vida. Cada um deve procurar não vida mansa, mas momentos de bons combates, porque é um ambiente propício para ter histórias para contar e construir uma vida digna de ser vivida, sendo forte, maleável, invisível e leve como o vento. O que nos faz fortes é a intensidade em sentir a leveza dos ventos. Cada um sabe a leveza que consegue acessar mesmo quando a vida é pesada…o que não for leve, que o vento leve…
Magui Guimarães

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