Magui Guimaraes

Pintando Girassóis

Satisfazer os desejos, é o que todo mundo quer, além de saúde, prosperidade, abundância de curtição, para postar nas redes sociais, mostrando uma alegria além da conta, de quem chegou no ápice da felicidade, mas sonhando em ganhar na loteria para ter seus desejos saciados, sem pagar boleto, apenas sentar na beira da piscina do seu palácio, hospedar-se em hotel de luxo e descansar, de preferência nas praias do Ceará, balançando na rede, bebendo água de coco, sem esforço algum, esperando que o mar pegue fogo para comer peixe assado. Alguns sonham com a aposentadoria para no fim da vida, viverem em plena opulência, sem fazer absolutamente nada, e curtir a vida, como se a inércia e a inutilidade significassem um final feliz. Na verdade, é um sonho de pedra.
Pouco adiantou a fortuna do magnata da marinha mercante, o grego Aristóteles Sócrates Onassis que mostrou seu poder casando com Jaqueline Kennedy, a mulher mais famosa da época, e morreu deprimido sem Maria Callas, seu verdadeiro amor. A grande fama do Rei do Rock, Elvis Presley, considerado um ícone cultural mais significativo do século XX, não o livrou de morrer aos 42 anos, com 158 quilos, por abuso
de medicamentos. A beleza, o charme, da estrela de cinema que encantou Hollywood, atriz, modelo, cantora Marilyn Monroe, símbolo sexual do século XX, não foram suficientes para evitar a morte por over dose, sem noção do tanto de prazer que o corpo pode aguentar.
O que se aprende é que fama, fortuna, beleza é uma droga difícil de se livrar, pelo seu grau de ilusão e encantamento inicial, rouba as pessoas de si mesmas, tornando-as escravas de bens de consumo, e de tudo que não é essencial para uma felicidade plena. Os que têm, além da conta, não sentem a abençoada insatisfação, porque vivem na opulência. Todo exagero de abundância material, o excesso, mata a delícia de conseguir algo com esforço. A carência, pode trazer mais satisfação, como a história de uma menina que ia a pé para a escola, e usava o dinheiro do bonde para comprar um saco de pipocas, e as saboreava como se estivesse comendo trufas de chocolate e apetitosos acepipes variados.
É inegável o benefício do dinheiro para uma vida digna, porém além da medida certa, desestrutura a personalidade. As compras são fontes de distração, nos primeiros momentos, mas logo deixam de ser novidade e, vem uma sensação de vazio interior, e sozinhos de amigos leais, sentem medo dos herdeiros que podem apressar a sua morte.
O prazer sensorial é gostoso demais, e pode ser vivido porém, jamais comandar uma vida, pois o prazer biológico tem vida curta, e após a saciedade, vem outro desejo de gozo passageiro com sede de bebida, fome de comida e sexo que por mais que se tenha, mais se quer ter, plantando no centro da mente, a dependência do “ter” para “ser”, longe da sensação libertadora de ter valor intrínseco, somente pelo fato de existir…de respirar.
A plenitude de uma vida interior completa-se com a arte. Tem uma frase que diz “A arte Salva” e alimenta o espírito sem engordar o corpo, trazendo uma satisfação que não tem a ver com desejo de coisas, e sim pela vontade de fazer música, escrever poesias, pintar quadros, cuidar de planta, tocar instrumento, dançar, representar peça de teatro, cantar, usando o talento pessoal para que outras pessoas sintam-se bem. O artista é feliz, assim como Vincent Van Gogh foi, pintando Girassóis, sem precisar de nada mais na vida, a não ser tela, tinta e pincel. Tem gente que cria algo belo através de tirinhas de papel colorido e oferecem de presente. Atire a primeira pedra quem não se sente bem, no exercício do seu talento. Nascemos talentosos e generosos e nos sentimos bem, expressando a arte de ser artista.
Este contato com obras de arte dispara um bem-estar permanente que se eterniza na memória, bastando a lembrança para sentir a sensação interna de harmonia e beleza, sem a necessidade de bebida, droga, comida, elogio, viagem e compra de objetos. Tem vida interior, quem alimenta a alma de boa música, e sente-se extasiado, mesmo com o estômago vazio. O filósofo Sêneca, no livro sobre a brevidade da vida, diz que a vida é breve quando vivemos o desnecessário, o necessário e urgente e esquecemos o Importante. E o que é importante? Tudo que é eterno! E o que é eterno? Os valores universais da busca da verdade, da paz, do reto agir, da justiça e do amor.
Segundo Platão, o que traz felicidade autêntica é a vivência do bem, do belo e do justo, produtos que não estão nas prateleiras dos Shoppings, mas que fazem parte do nosso cotidiano na simplicidade de servir o outro, sendo útil a alguém, criando objetos ou quadros bonitos com tirinhas de papel colorido ou, pintando girassóis.
Magui Guimarães

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