Magui Guimaraes

Tudo é passageiro

Quem disse que criança é um ser humano bom de convivência? Autocentrado, egoísta, pouco empático, para não dizer antipático, inconsequente, irresponsável, instintivo, cheio de razão e ainda, chantagista ameaçando choro se não ganhar o brinquedo, e além de tudo gera despesa sem contribuir com a receita.
Dentre as características desse ser pequeno, mas com potencial de ser grande, é que se expressa sem filtro, na mais pura emoção, despido de qualquer racionalidade, sem necessidade de ser político e cheio de vontade.
Passada as fases da infância que vão desde do desenvolvimento da autonomia, do vínculo afetivo com outras pessoas, da socialização e da expressão através do brincar e de atividades lúdicas, a criança apresenta alta capacidade de aprender e se maravilhar com o mundo, onde tudo é novo, até a chegada do pensamento lógico e ampliação das habilidades sociais e cognitivas, que marcam o início da formação da identidade individual.
Toda a complexidade do processo educacional tem o objetivo de simplesmente nos tornarmos gente, porém nem todos os humanos conseguem despertar para autoconsciência, perdendo-se de si mesmo, vivendo como estranhos à mercê dos valores de massa, apesar do imenso potencial de vida interior. Grande energia é gasta com emoções irracionais pela falta de identificação da origem do seu sofrimento, culpando as adversidades externas como causa direta de emoções indesejáveis, cujos remédios debelam os sintomas, deixando suas raízes expostas.
Estudando a biologia das emoções, descobre-se que tudo começa dentro, especificamente na cognição, ou seja, quando algo acontece, há imediatamente uma descrição linguística do fato que é determinante para sentir-se bem ou mal. Por exemplo, se a pessoa tem uma entrevista de trabalho e começa a chover, pode descrever o fato como um azar ou, como um inconveniente passageiro. Como a palavra é uma vibração sonora que impacta diretamente no sistema nervoso, a primeira interpretação gera um efeito danoso, e a segunda, um estado de leveza.
Segundo a neurociência, a velocidade do pensamento alcança 473Km/hora, e não há tempo de discernir qual a crença que dispara a emoção. Crenças de que os fatos ruins são permanentes, funcionam como um veneno que mata a alegria de viver. Adotar a crença de que eventos ruins são passageiros, é o apanágio para todos os males.
O processo emocional não depende do fato em si, e sim da escolha da interpretação baseado em crenças. É impossível escolher os fatos que nos acontecem, mas é inteligente escolher o melhor significado para o fato e, a partir dessa escolha, sentir-se bem ou mal.
Os casamentos se acabam, mas o que torna a pessoa deprimida não é o final de um relacionamento e sim, a crença de que este fato é um fracasso. Os saudáveis emocionalmente aprendem a tirar o mel dos “fracassos”, aprendendo como podem melhorar quando tiverem uma próxima chance.
Continuar a ser criança é identificar-se com a emoção, é reagir como se não tivesse escolhas. Se alguém lhe faz uma crítica, imediatamente é invadido por uma emoção desagradável de invalidez ou insegurança, como um réptil que ataca com medo ou foge da dor. Mas a inteligência humana é imune aos convites externos para disparar emoções irracionais e, usa o livre arbítrio para pensar o que vai fazer com o infortúnio, saindo da terra movediça da vitimização para encontrar o aprendizado embutido em cada acontecimento, descrito linguisticamente como se o fato fosse um trampolim para desenvolver maiores virtudes. Nada externo pode afetar o sistema nervoso, a não ser o significado dado expresso linguisticamente.
Existem sofrimentos reais que precisam ser vividos com coragem, desde de que seja realmente uma tragédia que justifique, mas na maioria dos aborrecimentos são fatos corriqueiros desagradáveis que impactam negativamente no humor, por acreditar que vão durar para sempre.
Hoje, dia da criança, assine a sua carta de alforria indo além das emoções. Exercite o seu livre arbítrio para escolher os significados que abrem novas perspectivas, e use uma linguagem assertiva para descrever que a febre, por exemplo, é a prova de que o sistema imunológico está perfeito; o final da guerra é o começo da reconstrução.
Aquela criança agora, com autoconsciência tem o domínio das emoções através de escolhas inteligentes, e mesmo não sabendo quais as surpresas do amanhã, pode optar em sentir o sabor das emoções produtivas, e entrar no jogo da imprevisibilidade brincando de viver o surpreendente a cada momento passageiro.
Este é o grande aprendizado que a nossa criança interna nos traz…é pensar que seja lá o que nos aconteça… lágrimas ou sorrisos….tudo é passageiro!

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