Magui Guimaraes

Limpeza da fala tóxica

Assim como o dinheiro, também a linguagem pode trazer riqueza. Muito mais do que uma gorda conta bancária, das palavras dependem a qualidade de vida.  A palavra além de ser um substrato da comunicação, sua vibração sonora dispara no sistema nervoso um fenômeno bio-elétrico-químico, criando bem ou mal-estar.

 

Nada é tão devastador para o bem-estar, do que o uso incorreto da palavra.   A qualidade de vida é determinada pelas palavras com que se faz a leitura de si, do outro e do mundo. E, no entanto, falamos irresponsavelmente sem se dar conta do efeito danoso para a saúde física, mental e espiritual.

 

Pelo viés biológico, a imunidade do corpo depende de uma autoestima forte, e a má palavra agride primeiramente ao emissor, deixando o corpo fraco, sem defesas para combater a entrada de vírus, bactérias, e ainda abre espaço para doenças mentais: neurose, angústia, ansiedade e depressão.

 

Quem fala mal, e estamos nos referindo a uma maledicência, ou seja, uma fala que prejudica alguém, causa na verdade, um mal a si mesmo.   Uma crítica reverbera acidez no ambiente externo, e como um bumerangue retorna à fonte, similar aos movimentos das ondas do mar.

 

Uma fofoca pode ser um escorregão das nossas pequenezas, mas o perigo é o de falar mal do outro, quando existe uma intencionalidade de prejudicar o outro propositalmente.  Os pensamentos alimentam a agenda oculta e, quais mísseis teleguiados, bombardeiam a imagem do outro de forma impiedosa.

 

Tem vezes que o falar mal do outro é apenas um fato jornalístico, uma informação para prevenir que outras pessoas sejam lesadas. Em caso de não ter uma agenda própria, a pessoa está habilitada a falar a verdade dos fatos, criticamente, sendo permitido fazer o comentário.  Mas mesmo assim deve ter cuidado com as invasões da irracionalidade porque, naquela batalha naval de acertar um submarino, por alguma razão que até a pessoa desconhece, acaba acertando um porta aviões.

 

E mesmo sem intencionalidade, o estrago feito com essa fala, dirigida ao mal é como uma flecha, uma vez que é atirada, ao invés de acertar um animal perigoso que estava nos atacando, pode acertar um inocente.    E não adianta se arrepender porque uma vez que colocamos em ação um movimento bom ou mau, ele se torna autônomo.

 

Ao derrubar todas as peças do dominó, a pessoa pode dizer: – “Eu só dei um peteleco, e tudo se desarrumou”.   A consciência registra algum tipo de malícia naquele peteleco e a pessoa sente-se corretamente responsabilizada pelo desastre.

 

Porque é tão necessária a limpeza da fala tóxica? Porque as guerras nascem na subjetividade humana, quando usamos palavras desabonadoras contra o outro para mostrar poder pessoal. Na posição de nos acharmos o centro do mundo, a última Coca Cola do deserto, nos arvoramos do direito de eliminar todos os que são contrários.

 

O agravante é que através dos meios de comunicação, é possível atingir, ao invés da vilazinha, alcançar o planeta inteiro.  A partir de um comentário de infâmia, difamação e injúria, a flechinha atirada, pode virar uma bomba atômica catastrófica.

 

Para evitar a doença generalizada da humanidade, demanda sensibilidade e inteligência para fazer a crítica da crítica.    Cabe a todos nós, identificarmos que chamamos de egoísta, todos os que não satisfazem os nossos desejos, e aí nasce a vontade de detonar o outro que não atende as nossas expectativas.

 

As tradições apontam que a causa é o orgulho ferido, que gera uma emoção destruidora porque está intrinsicamente ligado com a imagem que a pessoa tem dela mesma.  O orgulho é uma grande armadilha que nos cega. Para essa é a doença, o antídoto é a humildade que consegue reconhecer a semente do bem e o potencial de generosidade de cada pessoa.

 

Quando, por uma limitação pessoal, não conseguimos ver o melhor em todas as pessoas, o ideal é  não reagir aos ataques e se afastar das pedras raivosas e maliciosas daqueles que ainda não reconheceram o seu próprio potencial de bondade, sua própria doçura e, por essa razão atacam, mentem e negam, sem se  dar conta que a causa real de sua raiva, não é o defeito do outro, mas o orgulho próprio ferido.

 

A descoberta das causas reais do nosso azedume, acontece quando se faz a crítica da própria crítica , e com água cristalina da humildade, limpa a toxidade da fala a partir de um coração amoroso.

 

Boa reflexão de Domingo

Magui Guimarães

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