Magui Guimaraes

O futuro reescrevendo o passado

O infortúnio, a imprevisibilidade abala a segurança, a paz, o sossego. No momento exato em que acontece, é desafiador pensar na lição a aprender, e vem a revolta, o desequilíbrio, a insatisfação. As pessoas brigam a partir das suas dominâncias de quem está por cima, de quem está por baixo, de quem tem mais poder. Esta leitura pequena e superficial, é a mais usual, no primeiro momento.  Porém se as cicatrizes não apagadas, vão sendo acumuladas e constroem um ciclo constante de violência e de incapacidade de perdoar, de esvaziar essas negatividades, para se poder avançar para uma aproximação,  seja no contexto pessoal ou no coletivo.

É comum, perguntar: “Porque isso me aconteceu?” O “porque” é uma forma de rejeição a tudo que aconteceu; e além do mais cria raízes nas justificativas inventadas pela mente para explicar todo o sofrimento. Outra pergunta a evitar: “E se eu tivesse feito isso ou aquilo?”  Mas você não fez, então aceita o passado como uma decisão judicial que já passou pelo supremo e não há como recorrer.   É mais inteligente recorrer ao Futuro, aceitando que não há mais instância no passado e faz a pergunta: “Para que isso me aconteceu?”.  Esta pergunta mobiliza forças da psique para, no futuro desenhar a pessoa que se quer ser.  Cria-se um quadro mental, imaginando as cenas dos comportamentos sábios,  daqui em diante, nas próximas situações futuras, e o passado é limpo com o idealizando o futuro curativo e evolutivo.

Essa inteligência para criar condições a fim de que os erros não se repitam, isto sim restitui, regenera, restaura, pois quando a mesma situação acontecer, aquele que é o algoz ou a vítima, toma uma decisão diferente, porque consegue crescer ao ter um vislumbre de possibilidade de um novo ser.

Se no passado sentiu um gosto amargo, se no presente ainda existe a indiferença, descaso, rancor, tudo isso causa um desconforto, do qual a pessoa quer se ver livre. No fundo queremos perdoar, e ao fazer uma ponte para o futuro da pessoa que queremos ser, é feita uma cena com base em uma sabedoria que abre a porta para entrar na força do “re”, do reviver, reconhecer, reparar, renovar. Ao reconhecer que fez as pessoas sofrerem e as machucou, pode nascer uma vontade de dar um abraço. Ao reconhecer que, de alguma forma, deu cabimento, também há um reposicionamento.

A imaginação de ser melhor no futuro, abre sinapses neurais de oportunidade de realizar algo diferente no presente e daqui para frente. Com este instrumento de perdão e dimensão ética futura, é possível reconhecer a importância das lições do passado, livrar-se do peso amargo de emoções negativas, criando vínculos humanitários com o mel da imaginação que permite construções bonitas no futuro, no grande sonho feito com o fogo da plasticidade mental que permite uma nova versão, um novo reinício.

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